Wednesday, January 13, 2016

Quarta-feira, 13 de Janeiro de 2016

"Assim, por uma ironia da sorte, os bens do Coronel vinham parar às minhas mãos. Cogitei em recusar a herança. Parecia-me odioso receber um vintém do tal espólio; era pior do que fazer-me esbirro alugado. Pensei nisso três dias, e esbarrava sempre na consideração de que a recusa podia fazer desconfiar alguma coisa. No fim dos três dias, assentei num meio termo; receberia a herança e dá-la-ia toda, aos bocados e às escondidas. Não era só escrúpulo; era também o modo de resgatar o crime por um ato de virtude." 
(Joaquim Maria Machado de Assis, 'O Enfermeiro,' pág. 4) 

Aqui acho interessante os extremos a que uma pessoa vai chegar para ocultar um erro e restituir a paz de consciência. Ao longo do conto, Procópio esbarra na consideração todas as opções disponíveis para manter a aparência de inocência. 
Mesmo sendo justificado em se defender contra a violência e as  pancadas do Coronel, Procópio esgota as ideias de como ele pode esconder a fatalidade. Se não houver outros motivos de mudar ou agir, o medo de ser descoberto tem o poder de compelir nossas ações. 

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