ovo
n o v e l o
n o v o n o v e l h o
o f i l h o e m f o l h o s
n a j a u l a d o s joelhos
i n f a n t e e m f o n t e
f e t o f e i t o
d e n t r o d o
centro
Augusto de Campos, "Ovonovelo," pág 146
O poema aqui se forma na configuração do sujeito contido em si--um ovo. Assim este poema serve como um exemplo excelente de poesia concreta. Como vemos aqui, as palavras deste poema são manipuladas para que se expressem, pela forma, o sujeito, ou o propósito do poema. Acho interessante que em tal tipo de poema, a configuração do poema toma tanta prioridade, que a forma em muitos casos se torna mais importante do que as próprias palavras.
Thursday, February 25, 2016
Thursday, February 18, 2016
Quinta-feira, 18 de Fevereiro de 2016
O morcego
Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela igneo e escaldante molho.
"Vou mandar levantar outra parede..."
— Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!
Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh'alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!
A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!
(Augusto dos Anjos, O morcego pág 214)
Ficamos, às vezes, despertos--pensando nos erros que pendem sobre nossa cabeça e nos torturam. Não queremos lidar com a culpa, os sentimentos que queimam a mente. Levantamos parede, bloqueamos tal sentimento, tentamos expelir o morcego que bate ao redor da nossa cama e rasga a mente.
Não dá. Pegamos de um pau e lançamo-lo no morcego. Talvez consigamos acabar por matá-lo. Mas enfim, apesar dos esforços, não se consegue se afastar da Consciência Humana. Esse morcego entra no quarto, circunda nossa cama e nos acorda toda noite.
Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela igneo e escaldante molho.
"Vou mandar levantar outra parede..."
— Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!
Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh'alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!
A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!
(Augusto dos Anjos, O morcego pág 214)
Ficamos, às vezes, despertos--pensando nos erros que pendem sobre nossa cabeça e nos torturam. Não queremos lidar com a culpa, os sentimentos que queimam a mente. Levantamos parede, bloqueamos tal sentimento, tentamos expelir o morcego que bate ao redor da nossa cama e rasga a mente.
Não dá. Pegamos de um pau e lançamo-lo no morcego. Talvez consigamos acabar por matá-lo. Mas enfim, apesar dos esforços, não se consegue se afastar da Consciência Humana. Esse morcego entra no quarto, circunda nossa cama e nos acorda toda noite.
Friday, February 12, 2016
Sexta-feira 12 de Fevereiro de 2016
Redação sobre a narrativa curta
Dentro de um restaurante, o narrador observa com desgosto os movimentos e o consumo
de um homem velho, forte e poderoso. Ao observer e tomar nota da forma gulosa em que o
homem idosa consome seu jantar, o narrador assalienta o problema de que seres humanos fortes,
poderosos e influenciais tomam poder e precedência sobre os outros, sejam animais ou outros
seres humanos. O narrador demonstra esta realidade de consumismo abusive ao descrever o
homem corpulento, forte e poderoso, e a maneira em que ele come o seu jantar.
Ao descrever o homem sendo observado, o narrador enfatiza certas qualidades do homem
que denotam figuros de poder. Ele observa que o homem “era alto, corpulento, de cabelos
brancos, sobrancelhas espessas e mãos potentes. Num dedo o anel de sua força. Sentou-se amplo
e sólido” (Lispector 1). Neste observação, o narrador focaliza na descrição do homem velho,
usando palavras para sugerir que é um figuro de importância, potência e força. “O anel de sua
força”—um pequeno detalhe que diz tanto sobre a posição social do homem. Assim com
observações simples mas descritivos, o narrador estabelece o caráter de um consumidor.
Depois de estabelecer que o homem observado é um figure de poder e significado, o
narrador observou que ele “virava subitamente a carne de um lado e de outro, examinava-a com
veemência, a ponta da língua aparecendo — apalpava o bife com as costas do garfo, quase o
cheirava, mexendo a boca de antemão” (Lispector 1). Bem focalizado na comida, o homem
guloso nem pensa naquilo que está a comer, nem nas consequências que resultam de suas ações--
a supressão de pessoas menos potentes.
Esta observação afeta o narrador de tal maneira que mal consegue comer o seu próprio
jantar. Vendo a forma gulosa que o homem comia seu jantar, ele conta que “olhei para prato.
Quando fitei-o de novo, ele estava em plena glória do jantar, mastigando de boca aberta,
passando a língua pelos dentes, com o olhar fixo na luz do teto” (Lispector 2). O homem aqui
não tem qualquer restrição sobre a maneira em que ele se comporta ao comer. A reacção de
repulsa do narrador dá ênfase à gula do consumismo.
Em seguinte, o narrador fica ainda mais pasmado com a maneria em que o homem come
gulosamente. Ele fica repugnado, chocado e até irritado com o homem. Supreendida com a
forma que ele se portava, ele nota que “sua violenta potência sacode-se presa. Ele espera. Até
que a fome parece assaltá-lo e ele recomeça a mastigar com apetite, de sobrancelhas franzidas.
Eu é que já comia devagar, um pouco nauseado sem saber por quê, participando também não
sabia de quê" (Lispector 3). Assim a descrição dele serve como mais um exemplo que fortalece a
ideia do caráter do homem guloso e consumidor. Ele até ficou nauseado ao observer suas açoes.
Ao descrever este homem, o narrrador faz com que o leitor fique com uma ideia tangível de
Mais uma vez o narrador fica com nojo do homem consumidor. O efeito é tão profundo
que ele diz, “Inclino-me sobre a carne, perdido. Quando finalmente consigo encará-lo do fundo
de meu rosto pálido, vejo que também ele se inclinou com os cotovelos apoiados sobre a mesa, a
cabeça entre as mãos" (Lispector 3). Aqui enfatiza -se a justaposição entre a forma de comer do
homem e do narrador. O narrador começa a perceber que não quer que seja associado com tal
homem. No pasmo da cena que o narrador está a observar, ele nem conseque comer o seu
próprio jantar. Assim ele enfatiza a natureza repugnante chocante de consumismo abusivo.
O narrador vem, a um certo ponto, à conclusão de que ele já não aguenta a forma gulosa
deste homem. Ele decide que não quer nada a fazer com este homem. Repugnado, ele diz, “Eu
não podia mais, a carne no meu prato era crua, eu é que não podia mais. Porém ele
— ele comia” (Lispector 3). O narrador enfatiza a maneira em que o homem idoso come em
comparação com o grande desgosto dele. O narradoar vê que já não conseque aguentar este
consumismo mais. Apesar de como suas ações afetam outros, o homem continua a comer e se
Enfim o narrador faz uma declaração dizendo, “Quando me traíram ou assassinaram,
quando alguém foi embora para sempre, ou perdi o que de melhor me restava, ou quando soube
que vou morrer — eu não como. Não sou ainda esta potência, esta construção, esta ruína.
Empurro o prato, rejeito a carne e seu sangue” (Lispector 4). Aqui ele declara que ele já não
aguenta este tipo de consumismo, e dominação sobre os outros. Ele ainda tem dignidade e recusa
Dentro de um restaurante, o narrador observa com desgosto os movimentos e o consumo
de um homem velho, forte e poderoso. Ao observer e tomar nota da forma gulosa em que o
homem idosa consome seu jantar, o narrador assalienta o problema de que seres humanos fortes,
poderosos e influenciais tomam poder e precedência sobre os outros, sejam animais ou outros
seres humanos. O narrador demonstra esta realidade de consumismo abusive ao descrever o
homem corpulento, forte e poderoso, e a maneira em que ele come o seu jantar.
Ao descrever o homem sendo observado, o narrador enfatiza certas qualidades do homem
que denotam figuros de poder. Ele observa que o homem “era alto, corpulento, de cabelos
brancos, sobrancelhas espessas e mãos potentes. Num dedo o anel de sua força. Sentou-se amplo
e sólido” (Lispector 1). Neste observação, o narrador focaliza na descrição do homem velho,
usando palavras para sugerir que é um figuro de importância, potência e força. “O anel de sua
força”—um pequeno detalhe que diz tanto sobre a posição social do homem. Assim com
observações simples mas descritivos, o narrador estabelece o caráter de um consumidor.
Depois de estabelecer que o homem observado é um figure de poder e significado, o
narrador observou que ele “virava subitamente a carne de um lado e de outro, examinava-a com
veemência, a ponta da língua aparecendo — apalpava o bife com as costas do garfo, quase o
cheirava, mexendo a boca de antemão” (Lispector 1). Bem focalizado na comida, o homem
guloso nem pensa naquilo que está a comer, nem nas consequências que resultam de suas ações--
a supressão de pessoas menos potentes.
Esta observação afeta o narrador de tal maneira que mal consegue comer o seu próprio
jantar. Vendo a forma gulosa que o homem comia seu jantar, ele conta que “olhei para prato.
Quando fitei-o de novo, ele estava em plena glória do jantar, mastigando de boca aberta,
passando a língua pelos dentes, com o olhar fixo na luz do teto” (Lispector 2). O homem aqui
não tem qualquer restrição sobre a maneira em que ele se comporta ao comer. A reacção de
repulsa do narrador dá ênfase à gula do consumismo.
Em seguinte, o narrador fica ainda mais pasmado com a maneria em que o homem come
gulosamente. Ele fica repugnado, chocado e até irritado com o homem. Supreendida com a
forma que ele se portava, ele nota que “sua violenta potência sacode-se presa. Ele espera. Até
que a fome parece assaltá-lo e ele recomeça a mastigar com apetite, de sobrancelhas franzidas.
Eu é que já comia devagar, um pouco nauseado sem saber por quê, participando também não
sabia de quê" (Lispector 3). Assim a descrição dele serve como mais um exemplo que fortalece a
ideia do caráter do homem guloso e consumidor. Ele até ficou nauseado ao observer suas açoes.
Ao descrever este homem, o narrrador faz com que o leitor fique com uma ideia tangível de
Mais uma vez o narrador fica com nojo do homem consumidor. O efeito é tão profundo
que ele diz, “Inclino-me sobre a carne, perdido. Quando finalmente consigo encará-lo do fundo
de meu rosto pálido, vejo que também ele se inclinou com os cotovelos apoiados sobre a mesa, a
cabeça entre as mãos" (Lispector 3). Aqui enfatiza -se a justaposição entre a forma de comer do
homem e do narrador. O narrador começa a perceber que não quer que seja associado com tal
homem. No pasmo da cena que o narrador está a observar, ele nem conseque comer o seu
próprio jantar. Assim ele enfatiza a natureza repugnante chocante de consumismo abusivo.
O narrador vem, a um certo ponto, à conclusão de que ele já não aguenta a forma gulosa
deste homem. Ele decide que não quer nada a fazer com este homem. Repugnado, ele diz, “Eu
não podia mais, a carne no meu prato era crua, eu é que não podia mais. Porém ele
— ele comia” (Lispector 3). O narrador enfatiza a maneira em que o homem idoso come em
comparação com o grande desgosto dele. O narradoar vê que já não conseque aguentar este
consumismo mais. Apesar de como suas ações afetam outros, o homem continua a comer e se
Enfim o narrador faz uma declaração dizendo, “Quando me traíram ou assassinaram,
quando alguém foi embora para sempre, ou perdi o que de melhor me restava, ou quando soube
que vou morrer — eu não como. Não sou ainda esta potência, esta construção, esta ruína.
Empurro o prato, rejeito a carne e seu sangue” (Lispector 4). Aqui ele declara que ele já não
aguenta este tipo de consumismo, e dominação sobre os outros. Ele ainda tem dignidade e recusa
Thursday, February 4, 2016
Quinta-feira 4 de Fevereiro de 2016
"O próprio ator interrompe a ação e por fim compreende aterrorizado e a um só tempo a sinistra coincidência da cena e do momento, o que aquele vulto veio anunciar sobre o mundo do lado de fora, com buzinas, motores e sirenes; compreende por que a mulher não apareceu e afinal o que sente o humilde lavrador; compreende por que o diretor não o interrompeu desta vez, porque por fim esteve perfeito na pele do lavrador em sua súplica diante da morte; compreende que por um instante encarnou de fato o lavrador, que involuntária e inconscientemente, por uma trapaça do destino, tornou-se o próprio lavrador pelo que aquele vulto veio anunciar; compreende tudo num segundo."
(Bernardo Carvalho, Estão Apenas Ensaiando, Página 4)
Acho interessante que este conto mostra a justaposição entre a maneira em que o ator estava a interpretar o papel do lavrador as primeiras vezes, e depois de perceber porque a sua mulher se atrasava e que de verdade estava morta. Assim o conto indica que o arte, sem compreensão e experiência no "mundo de lado de fora," é considerado vazio e plano--sem substância. Mas a vida presta-se a experiência, tragédia, e crescimento e é então que o arte começa a tomar significado para o indivíduo.
Na missão, o trabalho foi duro e as pessoas fechadas e muitas vezes chateadas connosco. Passei muito tempo a andar e pensar. As experiências durante este tempo deixou o meu coração mais macia e compreensivo. Fiquei mais emocionante e durante conversas e lições, percebi que eu não estava apenas a recitar pontos de uma lição--não era apenas um ator a interpretar um papel--mas sim falava os sentimentos próprios. Assim a vida dá significado ao arte.
(Bernardo Carvalho, Estão Apenas Ensaiando, Página 4)
Acho interessante que este conto mostra a justaposição entre a maneira em que o ator estava a interpretar o papel do lavrador as primeiras vezes, e depois de perceber porque a sua mulher se atrasava e que de verdade estava morta. Assim o conto indica que o arte, sem compreensão e experiência no "mundo de lado de fora," é considerado vazio e plano--sem substância. Mas a vida presta-se a experiência, tragédia, e crescimento e é então que o arte começa a tomar significado para o indivíduo.
Na missão, o trabalho foi duro e as pessoas fechadas e muitas vezes chateadas connosco. Passei muito tempo a andar e pensar. As experiências durante este tempo deixou o meu coração mais macia e compreensivo. Fiquei mais emocionante e durante conversas e lições, percebi que eu não estava apenas a recitar pontos de uma lição--não era apenas um ator a interpretar um papel--mas sim falava os sentimentos próprios. Assim a vida dá significado ao arte.
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