"Começo a ter consciência de ter consciências. Talvez amanhã desperate para mim mesmo, e reate o curso da minha existência própria."
(Bernardo Soares, trecho 139)
Inteligência é assim. Depois de ganhar o conhecimento ou a consciência de algo, não podemos regressar em direção à nossa ignorância. A vida se esclarece e já não é o mesmo devido à essa consciência. Então temos a escolha de tomar uma vida à partir deste conhecimento.
Já não estamos satisfeitos com nossa existência então é aí que construimos nosso próprio ser, mossa própria existência.
Thursday, March 31, 2016
Thursday, March 24, 2016
Quinta-feira, 24 de Março de 2016
Marli
Primeiro quero tirar isso a limpo. Quero que essa vaca saiba que você é meu. (Com orgulho) Meu! (Grita para Rosa:) Esta roupa foi comprada com o meu dinheiro! Esta e todas que ele tem!
Bonitão
(Perde a paciência, ameaçador.) Se você não for pra casa imediatamente, nunca mais eu deixo você me dar nada!
(Dias Gomes, Pagador de Promessas, página 95)
Chocante--Esta ideia de que o valor e a identidade de uma mulher se baseia na sua habilidade de providenciar coisas por homens. Bonitão ameaça negar Marli este "privilégio" de lhe dar roupa e outras coisas, e assim, é como se ele estivesse a negá-la sua identidade e seus desejos maternais.
Que perversa esta mentalidade. E marli está metida nesta situação por falta de uma forte auto-identidade. Ela precisa ter orgulho por poder possuir alguma coisa, e o Bonitão se aproveita de sua mentalidade.
Primeiro quero tirar isso a limpo. Quero que essa vaca saiba que você é meu. (Com orgulho) Meu! (Grita para Rosa:) Esta roupa foi comprada com o meu dinheiro! Esta e todas que ele tem!
Bonitão
(Perde a paciência, ameaçador.) Se você não for pra casa imediatamente, nunca mais eu deixo você me dar nada!
(Dias Gomes, Pagador de Promessas, página 95)
Chocante--Esta ideia de que o valor e a identidade de uma mulher se baseia na sua habilidade de providenciar coisas por homens. Bonitão ameaça negar Marli este "privilégio" de lhe dar roupa e outras coisas, e assim, é como se ele estivesse a negá-la sua identidade e seus desejos maternais.
Que perversa esta mentalidade. E marli está metida nesta situação por falta de uma forte auto-identidade. Ela precisa ter orgulho por poder possuir alguma coisa, e o Bonitão se aproveita de sua mentalidade.
Thursday, March 17, 2016
Quinta-feira, 17 de Março de 2016
Zé
Acho que os meus ombros estão em carne viva
Rosa
Bem feito. Você não quis botar almofadinhas, como eu disse.
Zé
(Convicto.) Não era direito. Quando eu fiz a promessa, não falei em almofadinhas.
Rosa
Então: se você não falou, podia ter botado; a santa não ia dizer nada.
Zé
Não era direito. Eu prometi trazer a cruz nas costas, como Jesus. E Jesus não usou almofadinhas.
Acho fascinante a crença e tradição de fazer e cumprir promessas para certos santos. Tendo trazido a cruz sessenta léguas de pé, nas costas, o Zé aqui diz que seus ombros estão em "carne viva." Que dolorosa sua promessa e dedicação.
Embora essa forma de praticar sua religião seja muito diferente de minha cultura, tenho muito respeito pelas pessoas que possuem tal vigor espiritual.
Acho que os meus ombros estão em carne viva
Rosa
Bem feito. Você não quis botar almofadinhas, como eu disse.
Zé
(Convicto.) Não era direito. Quando eu fiz a promessa, não falei em almofadinhas.
Rosa
Então: se você não falou, podia ter botado; a santa não ia dizer nada.
Zé
Não era direito. Eu prometi trazer a cruz nas costas, como Jesus. E Jesus não usou almofadinhas.
Acho fascinante a crença e tradição de fazer e cumprir promessas para certos santos. Tendo trazido a cruz sessenta léguas de pé, nas costas, o Zé aqui diz que seus ombros estão em "carne viva." Que dolorosa sua promessa e dedicação.
Embora essa forma de praticar sua religião seja muito diferente de minha cultura, tenho muito respeito pelas pessoas que possuem tal vigor espiritual.
Thursday, March 10, 2016
Quinta-feira, 10 de Março de 2016
Cilada Verbal
Há vários modos de matar um homem:
Com o tiro, a fome, a espada
Ou com a palavra
--envenenada.
Não é preciso força.
Basta que a boca solte
A frase engatilhada
E o outro morre
--na sintaxe de emboscada.
(Poema de Affonso Romana de Sant'Anna interpretado na roda de poemas)
Não podemos esquecer qual efeito nossas palavras têm nos outros. Neste poema affonso de Sant'Anna assevera que as palavras até têm mais impacto e mais capacidade de destruir do que a própria força e poder.
Assim percebemos porque devemos pensar antes de falar. Mas por outro lado, da mesmo forma que palavras têm poder para ofender e destruir, também podem encorajar, persuadir, e elevar. Usemos nossas palavras pelo bem.
Há vários modos de matar um homem:
Com o tiro, a fome, a espada
Ou com a palavra
--envenenada.
Não é preciso força.
Basta que a boca solte
A frase engatilhada
E o outro morre
--na sintaxe de emboscada.
(Poema de Affonso Romana de Sant'Anna interpretado na roda de poemas)
Não podemos esquecer qual efeito nossas palavras têm nos outros. Neste poema affonso de Sant'Anna assevera que as palavras até têm mais impacto e mais capacidade de destruir do que a própria força e poder.
Assim percebemos porque devemos pensar antes de falar. Mas por outro lado, da mesmo forma que palavras têm poder para ofender e destruir, também podem encorajar, persuadir, e elevar. Usemos nossas palavras pelo bem.
Thursday, March 3, 2016
Quinta-feira, 3 de Março de 2016
Autopsicografia
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
(Autopsicografia, Fernando Pessoa)
The poet is a fraud
He fakes so thoroughly
That he comes to believe his pain
Is the grief he surely feels.
And those who read his words,
Feel the pain he tried to convey,
Not the deep and double sorrow in his heart,
But the pain that would never be theirs.
And thus on its turning wheels
It rolls on, containing the reason,
This counterfeit train of chords
That we know as the heart.
O poeta quer se expressar de uma forma emocionante e dolorosa, mas por vezes nem possui estes próprios sentimentos. Nós, como leitores, engolimos este material. Ficamos inspirados. Sentimos coragem. Queremos ser mais. Sentimos dor. Tudo maquinado pelo coração
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
(Autopsicografia, Fernando Pessoa)
The poet is a fraud
He fakes so thoroughly
That he comes to believe his pain
Is the grief he surely feels.
And those who read his words,
Feel the pain he tried to convey,
Not the deep and double sorrow in his heart,
But the pain that would never be theirs.
And thus on its turning wheels
It rolls on, containing the reason,
This counterfeit train of chords
That we know as the heart.
O poeta quer se expressar de uma forma emocionante e dolorosa, mas por vezes nem possui estes próprios sentimentos. Nós, como leitores, engolimos este material. Ficamos inspirados. Sentimos coragem. Queremos ser mais. Sentimos dor. Tudo maquinado pelo coração
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